Seguia-o com cautela, escondendo-me da sua visão e utilizando de toda a minha compreensão para não ser encontrado – com auxílio da minha magia, é claro. Sem dúvidas este é um dos mais perigosos alvos que já cacei em minha vida de caçador de recompensas. Já lutei contra ótimos esgrimistas, fortes cavaleiros, monges rápidos e ágeis, feiticeiras poderosas, assassinos venenosos, mas nunca contra alguém como ele. Não. Seu poder o transforma no mais perigoso de todos, pois ocultava a sua ameaça de modo que pouquíssimas pessoas teriam a capacidade de perceber. Por isso precisava ser cauteloso em minha execução. Mas eu tinha um plano. Sim. Eu sempre tenho um plano.
Rua após rua eu o acompanhava com o intuito de saber o seu destino, ao mesmo tempo que tentava descobrir se as informações que me foram dadas estavam corretas. Já preparado, fiz o primeiro ataque sutil. Movimentando a minha mão ajeitei meu chapéu para disfarçar a agulha mágica que lancei para o alto, com o intuito de acertar o meu alvo. Com a mão direita fiz pequenos gestos para ajustar onde ele acertaria e então a lancei com velocidade.
No momento em que a agulha acertaria o pescoço do perseguido ele fingiu ter ouvido alguém o chamando e então virou para trás como se para ver algo, fazendo com que a minha agulha passasse direto por ele e atingisse uma madeira. Não podia dar na vista que eu o perseguia, por essa razão olhei “através dele”, num daqueles olhares perdidos e sem vida que somente as mentes que divagam em pensamentos conseguem dar. Virando-se para onde caminhava, continuei o acompanhando.
“Está mais do que claro”, pensei. “Não há chance dele escapar do que não vê com tanta felicidade”. A partir daquele momento minhas dúvidas estavam sanadas, eu precisava abatê-lo antes dele conseguir o que queria. E então eu finalmente teria o que me foi prometido.
Ele então parou em uma barraquinha mais afrente e começara a conversar com o vendedor. Era uma barraquinha de pães e azeite e tinha somente ele. Era a chance que eu precisava.
Me aproximei, tirei o chapéu e então abanei contra meu rosto, comentando sobre como o tempo estava quente enquanto saudava o mercador e o meu alvo. O alvo comprava um pouco de azeite e eu um pouco de farinha. Sem moedas para dar o troco o vendedor foi falar com um dos seus amigos.
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-Eu desistiria se fosse você. – disse o alvo ao se aproximar de mim como se olhasse algo que estava à mostra ali.
-Perdão, senhor? – falei com toda a minha dissimulação enquanto eu enfiava a mão em um cesto de farinha de trigo que olhava na barraca e fingia os segurar para sentir a sua granulação.
-Sabe que sim, está me seguindo há pelo menos dois dias – então aproximou a ponta da faca contra a lateral da minha cintura. – Eu poderia findar com isso agora, mas estou de bom humor, então trate de continuar a sua vida ou encontrará um fim muito rapidamente.
-Não é aí que se aponta uma arma para matar – retruquei calmamente.
-Eu sei muito bem o que estou fazendo?
-Acredito que o faz é errado – retruquei enquanto levava a mão ao rosto, tossindo para evitar que as minhas palavras fossem ouvidas tão nitidamente entre a multidão. A descrição é a base do mercenário.
-Este é o último aviso – então ele pressionou a ponta da faca contra minha cintura e senti quando a ponta rasgou a minha pele, mas o objetivo dele era me amedrontar, não me matar. – Fique longe do meu caminho.
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Distanciando-se ele se inseriu novamente na multidão que passava com sorrisos de vitória. O poder de voltar no tempo é simplesmente fenomenal. Mas seria eu quem riria no final, lavei minhas mãos do pó que estava sobre ela tratei de desinfetá-la. Afinal, aquela era uma substância perigosa.
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Mesmo assim, ser descoberto não é algo bom para um mercenário, pois só dá duas opções ao alvo: lutar ou fugir. E eu não deixaria que ele fugisse. Sem perder tempo, enfim ataquei.
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A luta começou no meio da praça e rapidamente o tumulto estava feito. As pessoas corriam da briga, abrindo espaço para os nossos ataques. Assim foi durante algum tempo, mas não importava o golpe que utilizava, ele sabia qual era meu movimento. Minha espada balançava com rapidez e agilidade e mesmo assim não o alcançava. Precisava ser mais astuto, mais sagaz do que jamais fui. A cada nova investida ele conseguia me atingir e minha magia estava se esvaindo entre as muitas vezes que tive que curar meus ferimentos. Mas eu precisava aguentar um pouco mais até que enfim o meu plano desse certo. Por isso lancei-me contra ele novamente. Mais rápido e imprevisível, ou tentando ser. Acontece que ele sabia cada movimento meu, pois o vira muitas vezes, até que finalmente acontecera. Estando prestes a receber o golpe fatal eu consegui retirar um bisturi do meu cinto e enfiar no seu braço. Ele berrou de dor e seus olhos se arregalaram ao perceber que não conseguia mais voltar no tempo.
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-O que você fez? – falou com terror nos olhos. Terror este que me fez sorrir involuntariamente.
-Equilibrei o jogo.
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